Novembro Roxo: neonatologista do MPHU fala sobre o mês da sensibilização da prematuridade | Acontece na Uniube

Novembro Roxo: neonatologista do MPHU fala sobre o mês da sensibilização da prematuridade

16 de novembro de 22
1 / 1

Dia Mundial da Prematuridade é comemorado nesta quinta-feira, 17, e a equipe de neonatologia fecha a programação desse ano com evento voltado às mamães que estão na UTI e egressas.


Carolina Oliveira


Novembro é o mês internacional da sensibilização da prematuridade, um tema delicado, mas que é debatido para a reflexão sobre a qualidade do atendimento oferecido às crianças que nascem antes do tempo previsto, bem como para orientar as famílias. Para isso, a equipe de neonatologia do Mário Palmério Hospital Universitário (MPHU) desenvolve, ao longo do mês, a campanha do Novembro Roxo, que conta com ações de conscientização voltadas às gestantes em pré-natal e às mães com bebês prematuros. 


Em entrevista, a pediatra e neonatologista Débora Martins, falou sobre o tema desse ano, "Garanta o contato pele a pele com os pais desde o nascimento", e como todo o processo impacta a vida das famílias.


A prematuridade é comum, mas pode ser prevenida. Quais são as principais causas e como prevenir?


Débora Martins: A prematuridade pode ser prevenida na maioria dos casos com realização de pré-natal adequado. As principais causas de parto prematuro são hipertensão arterial, diabetes melitus, idade menor que 15 anos ou maior que 40 anos. E é mais comum em mães que já tiveram outros bebês prematuros.O Novembro Roxo não é uma comemoração, porque a prematuridade pode provocar sequelas, além de ser a principal causa de morte em crianças abaixo de cinco anos, sem falar no grande sofrimento gerado a suas famílias durante o seu cuidado.


Qual a estrutura necessária para atender um bebê prematuro e a família?


Débora Martins: Cuidar de um prematuro exige equipe multiprofissional especializada - médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais - capaz de garantir não só a sobrevivência, mas o desenvolvimento do bebê prematuro em todo o seu potencial. Além disso, são necessários equipamentos e medicamentos específicos para essa faixa etária e que permitam a melhora assistência possível.  Associados à tecnologia de ponta e ciência, é necessário humanizar o cuidado: para o recém-nascido permitir ambiente com luminosidade reduzida, temperatura controlada, ruídos mínimos, manipulação cuidadosa. Para suas famílias, a permissão de permanecer junto com seus filhos por período integral, a participar das decisões sobre a assistência, a inserção nos cuidados com a criança e o apoio psicológico e social com relação a seus direitos legais.


Ganhar o bebê e não poder levá-lo para casa de imediato desestabiliza o emocional da família e principalmente a mamãe que acabou de dar à luz. Os pais recebem apoio psicológico no MPHU?


Débora Martins: A equipe multiprofissional é essencial para o suporte do bebê doente e de toda a família. A presença do psicólogo hospitalar é essencial para apoio em uma jornada que, muitas vezes, é prolongada e com momentos que incluem risco de morte. É importante que os pais se sintam acolhidos e apoiados durante todo o processo.


O tema desse ano é "O contato pele a pele com os pais desde o nascimento", e o MPHU permite que a família permaneça 24h com o bebê. Quais são os benefícios para o desenvolvimento do prematuro e para a família?


Débora Martins: O contato pele a pele está indicado na sala de parto para todos os bebês, e não só os prematuros. O contato precoce entre a mãe e seu bebê melhora os vínculos afetivos, aumenta as chances de sucesso do aleitamento materno o que traz uma série de benefícios ao longo da vida da criança. No caso dos prematuros, o contato pele a pele pode ser feito na UTI, quando o bebê está estável. Esse contato também fortalece a afetividade, já que a mãe não pode pegar no colo e cuidar de seu bebê todo o tempo. Os bebês de UTI que são colocados em pele a pele também são amamentados por mais tempo. A colocação em pele a pele permite que os bebês fiquem mais calmos, com temperatura mais estável. Alguns trabalhos mostram inclusive alta mais precoce quando utilizado na forma do "método canguru", quando bebês em ganho de peso passam quase todo o dia posicionados em pele a pele.


As mamães têm a oportunidade de passar mais tempo ao lado do filho após a decisão do STF que estabelece a Maternidade Estendida, passando a contar a licença-maternidade a partir da alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido. Qual o impacto dessa mudança?


Débora Martins: A licença maternidade estendida foi um ganho muito grande para as famílias. Antes, a licença contava a partir do dia do nascimento, às vezes o bebê ainda não tinha saído do hospital e a licença da mãe já estava acabando. Então, contando da alta do bebê, garante realmente que o binômio possa ter seu tempo de convívio afetivo,  aleitamento materno e cuidados que a licença maternidade garante.


O tempo que o bebê permanecerá internado depende do seu desenvolvimento na UTI. Qual é a sensação da equipe quando eles estão prontos para ir para casa?


Débora Martins: O processo de alta começa já desde a internação do bebê: a equipe pensa no melhor cuidado para que este paciente se desenvolva e possa ter uma alta segura o mais breve possível. Quando atingimos a melhora e enxergamos a ida para casa, a família, que já acompanha a internação,  começa  a assumir todos os cuidados com o bebê. A alta é dada quando os cuidadores da criança estão seguros. Os pais recebem documentação de exames, programação de cuidados, primeira consulta do bebê já agendada. Para a equipe, é o ápice do trabalho: todo o cuidado visa esse momento que é o sonho de toda família quando descobre a gestação: saírem do hospital   juntos,  nas melhores condições possíveis para o desenvolvimento saudável dessa criança. Pessoalmente, é a maior conquista possível - devolver o maior bem que os pais podem ter: os filhos em seus braços.


"O Novembro Roxo não é uma comemoração".


Débora Martins: A prematuridade pode provocar sequelas além de ser a principal causa de morte em crianças abaixo de cinco anos. Sem falar no grande sofrimento gerado a suas famílias durante o seu cuidado. É importante lembrar que uma das lutas do Novembro Roxo é para que os bebês continuem tendo assistência de qualidade após a alta hospitalar. Acesso a serviços de reabilitação, vacinação especial e seguimento com outras especialidades médicas como neurologistas, oftalmologistas e pneumologistas, o que permitirá que o prematuro atinja todas as suas potencialidades.