Não diga não!
Guarânias cantam as noites escuras do Paraguai

Guilherme Marinho

É estranho como não conhecemos os nossos vizinhos. O Paraguai, por exemplo, guarda um tesouro que muitas vezes é ignorado pela maioria do povo brasileiro: as guarânias, manifestações da cultura de um povo que tem duas línguas oficiais — o espanhol e o guarani. O estilo musical recebeu esse nome justamente devido à língua oficial do país: o guarani. Curiosamente, a maioria das músicas são cantadas em espanhol.

Mais esquecido talvez seja o fato de que um de nossos imortais da Academia Brasileira de Letras foi um composior de guarânias. Mário Palmério compôs, entre outras, "No digas no", "Noche de Asunción" e a mais famosa de todas: "Saudade". As músicas foram compostas enquanto Palmério foi embaixador naquele país. Nomeado no governo de João Goulart e deposto no Golpe Militar, o imortal passou dois anos de sua vida conhecendo a "noche de Asunsión" e compondo sobre ela.

As guarânias de "Don Mário" — como o chama o jornalista Mauro Santayana — foram interpretadas por artistas como Oscar Escobar, Neca Gonzalez e Oscar Aguajo. É dito que este estilo de música lembra muito o sertanejo do nosso Brasil. O romantismo e a "dor de corno" reinam absolutos. Entretanto, levam um toque melancólico típico da boemia paraguaia, de uma toada bonita, leve e simples.